Meu lugar

Exposição itinerante do Museu de Arte do Rio

Texto curatorial:

Habitar não significa simplesmente se alojar. É um processo de apropriação de um espaço, no sentido de torná-lo obra daquele que o habita, moldando-o de acordo com sua subjetividade. Habitar diz respeito a usos, contrausos, subversões e afetos. Envolve, por exemplo, arranjos transitórios, transformações temporárias nas funções de objetos e cômodos: uma cadeira que acaba servindo de mesa ou cabide para apoiar objetos, mas não deixa de ser cadeira; um quintal que se torna local de trabalho, mas não deixa de ser quintal. São condições criadas pelos hábitos, e alguns deles subvertem o próprio sentido da moradia ou da privacidade: quando ocorre o prolongamento casa para a rua, ao posicionarmos cadeiras nas calçadas para bater papo com vizinhos ou “ver as modas”; a comunicação entre interior e exterior em festas e churrascos que extrapolam portões; a atribuição de outros usos além da morada, transformando a garagem, o quintal ou o espaço edificado em geral em um salão de beleza, uma igreja, um empreendimento gastronômico ou um local para venda de outros produtos e serviços.

Existe uma interdependência entre os termos “habitar” e “construir”, principalmente no Brasil, onde apenas cerca de 15% das moradias são planejadas por arquitetos ou engenheiros. A grande maioria, 85% de nossas habitações, são pensadas e erguidas pelos próprios moradores – um processo chamado de “autoconstrução”. O que melhor representa, então, nossas habitações? Certamente não são as construções que vemos com maior frequência nos livros de arquitetura e história da arte, mas as moradias populares. Mesmo quando projetada e erguida por um especialista, a casa é um espaço em constante construção, sendo remodelada – arquitetonicamente ou em seus usos – de acordo com a subjetividade do habitante que pratica o espaço. Construímos e habitamos em busca de proteção, conforto, prazer e sobrevivência, onde imprimimos marcas de nossa identidade – e igualmente incorporamos esses lugares em nosso ser: possuímos sotaques, costumes, hábitos que indicam onde habitamos e o que somos.

Esta exposição itinerante realizada pelo Museu de Arte do Rio com patrocínio da ENEL propõe uma releitura da exposição “Casa Carioca”, que aconteceu no MAR em 2020. As obras aqui apresentadas percorrem diversas questões para se pensar os sentidos do habitar no estado do Rio de Janeiro, seus problemas ao longo da história e as soluções criativas adotadas no dia a dia em nossas moradas.

Deixe um comentário